Quem sou eu





Crie glitters aqui!

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

Cecília Meireles

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Minha Cunhada quer se casar (POESIA)



Ela quer se casar,
com alguém que saiba amar
e compartilhar.

Ela quer se casar,
e com um véu, seus longos cabelos.
enfeitar.

Ela quer se casar,
tem dedos fininhos,
mas sabe fazer o piano chorar.

Ela quer se casar,
tem sapatilhas
e adora bailar.

Ela quer se casar,
não tem quadril farto,
mas aprendeu como rebolar.

Ela quer casar,
em várias línguas
 ela sabe cantar.

Ela quer se casar,
antes dos enta lhe alcançar.

Ela quer se casar,
não é nervosa, nem sabe
gritar.

Ela quer se casar,
para com toda a família
festejar.

Alguém vai se candidatar?
Ou ela vai ter de esperar
o Papai Noel providenciar?

NATAL (POESIA)



Será que o Natal é só comprar?
É ter a obrigação de seguir a tradição?
Iluminar a casa com luzes coloridas?
E com nada mais se preocupar?

Será que é só cantar a mesma canção?
Andar pela cidade para ver luzes piscar?
E depois, comer até se fartar?
Abraçar apenas quem nos deu a mão?

Em que caixa escondemos a Compaixão?
Em que árvore penduramos o nosso Coração?


Vamos nos libertar de tanta imposição.
Vamos fazer um Natal com o coração.
Abrindo a caixa da Compaixão.
Soltando os laços da Emoção.
Desprendendo as fitas dos braços.
Vamos distribuir risos e abraços.
Vamos dividir melhor nosso pão.
Iluminemos a noite de Natal
Com nosso olhar de Gratidão.


Faça alguém feliz. Adote uma cartinha no correio e vire Papai Noel.
Regina Gois

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

AVENIDA BRASIL (Nova Odessa)



Alameda larga, pássaros voam
entre folhagens sem fim.
Sob o céu choroso de novembro,
imensas copas verdes,
imitam um véu de cetim.
Flores despencam, me envolvem, flutuam,
rolam ao vento, pousam tranquilas,
mesclando o capim, de rosa, amarelo,  lilás e carmim.
No  ar, apenas  o aroma de  jaqueiras,  jabuticabeiras
pinheiros, flamboyants, ipês, mangueiras,  aroeiras,
pitangueiras, jasmim e alecrim.
É  um encanto de jardim
Caminhando sozinha, tenho tudo isso só para mim.
Espero que todo esse encanto nunca tenha fim.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A ORAÇÃO DOS PEQUENOS (CONTO)


O feriado estava chegando, e nossa casa logo estaria cheia. Cheia não, lotada. Éramos os únicos da família que morávamos no interior, então já estávamos acostumados com a presença de nossos parentes paulistanos. Eram tios, tias, avós e muitos primos.
 A nossa casa era grande para nós cinco; papai, mamãe, meu irmão Vítor, minha irmã Helena e eu, Renata. Embora nossa casa fosse sempre limpa e organizada, antes da chegada dos parentes, minha mãe ficava alterada, queria tudo impecável, afinal ela receberia suas cinco cunhadas, com seus maridos e filhos e também a sua sogra; minha querida vovó. Meu avô, não gostava muito de viajar, então ele raramente vinha nos visitar.
Era uma loucura, pois minha mãe queria tudo muito mais limpo e muito mais arrumado. Para nós, tudo já estava ótimo, mas mamãe não achava o mesmo. Então ela dividia as tarefas domésticas, cada um ficava responsável por uma parte da arrumação. Eu não tinha muitas tarefas para realizar, apenas trocava as toalhas de rosto e os tapetinhos dos banheiros.  Meus irmãos reclamavam, dizendo que eu trabalhava pouco, então minha mãe respondia: “Ela ainda é muito pequena e também é tão magrinha, coitada”. Minha irmã era um ano mais velha do que eu, porém já era bem esperta, tinha bastante iniciativa e isso a tornava uma mocinha aos olhos de mamãe, então ela sempre ajudava mais. Ficava responsável principalmente pela arrumação dos quartos, meu irmão e papai limpavam o quintal, podavam as plantas e cuidavam do gramado. Logo a casa estava do jeito que mamãe queria. Tudo organizado, limpo e cheiroso. Eu não entendia o porquê de tanta arrumação, quando as visitas chegavam, com aquele monte de malas, sacolas, cobertores, travesseiros e edredons, tudo ficaria bagunçado de novo.
 Na hora que chegavam já começava a festa, eles chegavam buzinando, no instante em que desciam do carro já começavam os falatórios, os beijos e abraços intermináveis. As crianças corriam pelo quintal, dando volta na casa, atrás dos cachorros e do gato. Os adultos entravam em casa, sentavam-se e conversavam sem parar, era tanto assunto para colocar em dia, que um atropelava a fala do outro. Tantas novidades, falavam de tudo, principalmente das peraltices das crianças e das manias do Vovô Moisés. Logo iam todos para a cozinha, arrumavam a grande mesa, que se tornava pequena para tanta gente. Lá de fora, nós só ouvíamos vozes, risos e gargalhadas.
Embora a casa fosse grande, tornava-se pequena para acolher tanta gente, principalmente na hora de dormir. Então precisávamos improvisar camas para acomodar todos, o que deixava as noites agradáveis, pois minha mãe distribuía colchões em todos os lugares, alguns dormiam na sala de estar, outros na sala de tevê, alguns no escritório do papai, tinha colchões no chão do meu quarto e nos corredores. Era uma festa, pois as crianças dormiam todas juntas.
Meus primos tinham várias idades. Por isso formávamos dois grupos distintos na hora de brincar, porque os maiores não tinham a menor paciência com os menores, que viviam atrás da gente. Logo que chegavam os pequenos, que eram o Dudu de quatro anos, Marina e Ornella de três anos, ficavam nos seguindo por todos os lados, por mais que fugíssemos, lá estavam eles, querendo brincar conosco. Nós que éramos maiores, mas nem tanto, pois eu tinha 10 anos, minha irmã Helena e nossa prima Bianca tinham doze anos, o Vítor tinha treze e o Lucas oito; queríamos brincar nas ruas largas de nosso bairro, correr e nos esconder nos matos, de trás das árvores; é claro,  sem a presença dos pequenos, pois eles sempre caíam e se machucavam.
Foi quando minha irmã Helena teve uma idéia, foi até um quartinho na edícula, onde nossos pais guardavam coisas velhas, e pegou uma grande caixa. Ficamos todos em volta curiosos. De dentro da caixa ela começou a tirar um tecido vermelho e amarelo, foi então que me lembrei que, era uma tenda, que depois de montada, viraria uma linda casinha de boneca com porta e janelas. Todos se prontificaram a montar a casinha em cima do gramado. Os pequenos ficaram encantados, dissemos que a casinha era para eles. Montamos, colocamos dentro uma mesinha e uns banquinhos de plástico. E então eles entraram lá e ficaram brincando felizes. Enfim, nós “os grandes”, estávamos livres. Não pense que era maldade nossa, mas toda vez que eles nos acompanhavam nas brincadeiras, acabavam se machucando, chorando, e nós, os maiores, levávamos as broncas. “Eles são pequenos, por que vocês não cuidam deles?”
Nós queríamos era curtir nossas brincadeiras, se esconder muito bem para não sermos encontrados, correr para não sermos pegos, etc. ninguém queria ser babá de ninguém.
A idéia da cabana deu certo; os pequenos pegaram suas bonecas e carrinhos e ficavam horas lá dentro brincando, de casinha. De modo que, agora estávamos livres, eles só saíam de lá para comer, comiam rápido e voltavam às suas brincadeiras na casinha.
 Em um momento em que estávamos brincando de esconde-esconde, eu dirigi-me ao quintal, para me esconder na edícula, que ficava aos fundos da casa, depois do gramado. Passando pelo gramado, olhei para a casinha de boneca e não ouvi nenhum ruído, o silêncio era total, então fiquei preocupada. Lembrei-me, que Minha mãe sempre dizia: “Criança quando está quieta, pode apostar, que está aprontando”. Eu estava convencida de que os pequenos estavam aprontando alguma coisa, por isso fui verificar. Andando bem devagarzinho, em silêncio total, esgueirei-me pelo gramado até chegar à janelinha da casinha. Permaneci observando para dentro em absoluto silêncio, nem sequer ousava respirar, para não despertar suas atenções. Lá dentro os três estavam ajoelhados, com os olhos fechados, semblantes sérios com os cotovelos apoiados nos banquinhos e de mãos postas. A Marina e a Lella, tinham um véu sobre a cabeça. Foi então que Lella começou a falar:
-Irmãos, vamos orar para eu ganhar um irmãozinho e um cachorrinho.
 E começou a fazer o pedido:
-Deus, eu quero um irmãozinho ou uma irmãzinha.
Dudu e Marina diziam em coro: “Amem!”
-Eu também quero um cachorrinho.
Dudu e Marina diziam de novo: “Amem!”
E a oração prosseguia. Ela explicava para que, precisava tanto de irmãos e de um cachorro, e terminava a oração pedindo benção para todos os tios, tias, avós e primos. Eu fiquei encantada, sai de fininho sem que eles me vissem.
O final de semana prolongado acabou. Eles foram embora. Eu guardei aquilo comigo, não queria repartir com mais ninguém, acho que ninguém iria acreditar mesmo. Fiquei sabendo meses depois que Ornella, ganhou um lindo filhote de pitpoodle que se chama Winky Baby. Mas o que Ornella não entendia na ocasião, era que, apesar de ser filha única, parte de sua oração já tinha sido atendida, ela ansiava tanto por irmãos, que não conseguia ver os que estavam à sua volta. Ela já tinha o Vítor, A Helena, a Bianca, a Júlia, o Lucas, o Dudu e a Marina, depois nasceram o Matheus, o Bruno, outro Lucas, o Arthur, a Nana, o João Pedro, o Raul, o Henrique e o Bernardo.  Que menina mais abençoada, essa Ornella. Será que ela vai ter tempo e amor para todos esses irmãos?
Regina Gois
  
          

    

LOUCURAS DE MAMÃE (CONTO)



-Lucas! Como está a sua mãe?
-Melhor, D. Rita, eu fui visita-lá ontem. Ela disse que estava muito cansada, e realmente parecia muitíssimo cansada. Tinha até olheiras profundas, eu lhe perguntei o porquê de tanto cansaço, achei que os enfermeiros estavam lhe dando muitas atividades físicas para aumentar a serotonina. Ela me respondeu que estava cansada, porque tivera muitos filhos, e que eles davam muito trabalho, principalmente à noite, quando miavam muito. A pobre estava toda arranhada de tanto se enfiar embaixo da cama, procurando seus "filhos".
-Como ela pode estar bem, falando estas besteiras?
- A senhora não viu o estado em que ela se encontrava antes da internação. Ficou uma semana embaixo da cama com a luz apagada, não saía nem para comer, a única pessoa que podia entrar no quarto sem correr risco de morte era a minha avó; meu pai, coitado, vivia todo mordido e unhado, toda vez que ele tentava se aproximar, ela atacava.
-Que pena! Desejo melhoras para ela.
-Obrigado! Agradeço muito a sua preocupação.
Eu já estava bastante acostumado com as frequentes perguntas, dos vizinhos, conhecidos e parentes; não me deixava nem um pouco constrangido, todos sabiam como era a vida de minha família. Quando minha mãe surtava; o que, não era raro, todos tomavam conhecimento e tentavam ajudar de alguma maneira.
Lembrei-me da vez em que ela pegou o carro de madrugada e foi embora. Não tínhamos outro carro para segui-la, somente no dia seguinte é que fomos atrás dela, com um carro emprestado do nosso vizinho. Procuramos em todos os cantos, casa de parentes, hospitais, cadeias, IML, e nada. Foi desesperador. Depois de uma semana, meu pai conseguiu encontrá-la numa praça qualquer da cidade, descalça, com as roupas imundas e rasgadas, os cabelos emplastados. Quando tentamos trazê-la para casa, ela se debateu, chutou, mordeu e se agarrou no banco da praça, foi preciso contar com a ajuda de várias pessoas para levá-la até o carro. No trajeto para casa, ela gritava, cuspia, babava e lambia o vidro do carro, que ficou todo melecado com a sujeira de suas mãos e rosto.
Chegando em casa, foi preciso duas pessoas para dar banho nela, nós a colocamos em baixo do chuveiro, só depois tiramos as suas roupas imundas, que foram direto para o lixo. Meu pai a segurava, enquanto a minha avó a lavava, aí então ela se acalmou e voltou a falar com alguma coerência.
O sabonete e o xampu tinham que ser passados na esponja, para que ela não comesse ou bebesse; por várias vezes enfiei o dedo em sua boca para tirar os pedaços de sabonete.
Quando ela resolvia cozinhar, era muito especial. Ela gostava de fazer bolos e pães, mas todos tinham de ficar de olho em todos os detalhes. Os pães saíam com ovos inteiros e os bolos salgados, com talheres no meio. Chegamos até a comer bolo de fubá salgado e com pimenta. Era uma loucura!
O fato mais grave de que me lembro, foi no aniversário de 35 anos de meu pai. Ele não gostava de festas, então resolvemos fazer um jantar surpresa. Minhas avós e minhas tias chegaram trazendo cada uma, um prato. Minha mãe quis ficar responsável pelas tortas e salgados. A mesa ficou linda. Os pratos foram colocados um a um, todos com uma aparência maravilhosa, só faltavam os assados de minha mãe. Meu pai chegou, e foi aquela surpresa.
Estávamos prontos para comer, brindamos e alguém lembrou que estava faltando à mamãe com os seus assados. Eu saí do meu lugar e fui até a cozinha ajudá-la. Chegando lá, vi que a bancada da pia estava repleta de assadeiras. Tinha também assadeiras no chão e em cima do fogão. Cheguei a contar doze pratos, com várias partes de carnes e aves assadas. O cheiro era inebriante, a aparência maravilhosa.
Ela estava muito contente com seu trabalho, enfeitara todos os pratos, com muita delicadeza e carinho, parecia uma criança em meio aos seus brinquedos. Comemos muito, e distribuímos para os vizinhos um pouco aquela fartura. Ninguém teve a preocupação de perguntar onde ela encontrou tantas espécies. Dias depois ouvimos boatos de sumiço de alguns animais da vizinhança. Foram encontrados esqueletos de bichos em nosso quintal, até os coelhos e os pombos de minha vizinha sumiram. Vi uns cartazes na padaria e nos postes do nosso bairro, de alguns animais desaparecidos, mas nunca pudemos provar nada, e muito menos perguntar para ela.
Mamãe sempre foi muito sensível e caridosa, nada era somente dela, sempre que tinha oportunidade de ajudar o próximo lá estava ela. Nossa geladeira tinha apenas o essencial para o dia, e nossos armários tinham trancas com chaves, como também os guarda-roupas e as sapateiras. E havia um motivo para isso. Quando alguém chegava batendo na porta e pedindo algo para comer, minha mãe dava tudo o que estava ao seu alcance; frutas, macarrão, arroz, óleo..., enchia as mãos, as sacolas e entregava. E ainda falava: - Espera aí que tem mais um pouquinho. Dava tudo o que tínhamos em casa. O mesmo acontecia com as roupas e os sapatos. Não podia ver uma pessoa passando frio ou com roupas surradas. Quando víamos, tínhamos que tirar da mão dela e esconder. Mesmo assim, ela não se conformava e ficava procurando pela casa algo que pudesse ser doado.
Eu estava acostumado com a minha vida em família, na verdade não conhecia outra. O que é ser normal ou ter uma família normal, quem sabe? Todos têm seus altos e baixos. Todos têm conflitos, só sei que tenho aprendido muita coisa sobre fé, amizade, compaixão e principalmente amor.
Regina Gois

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

IRMÃS DO CORAÇÃO (POESIA)





IRMÃS DO CORAÇÃO
Obrigada,Pelo ombro,                                                                                                                             
Pela afeição,
Por ser minha aliada,
Nessa jornada.

Pelos braços abertos,
Pelo abraço,
Pela oração,
Por me dar atenção,
Quando estou tão despedaçada.

Pela compreensão,
Por me dar a mão,
Pelo pão repartido,
Quando eu achava que tudo estava perdido.

Obrigada por se doar,
Por esse olhar tão afável,
Por me fazer acreditar,
E por tornar a minha vida suportável.
   


CADÊ VOCÊ? (POESIA)


Gatinha sapeca
Escalava os muros
De cima do telhado miava contente
Fazia birra, achando que era gente.

Todos diziam que era diferente
Fugia pelas janelas
Pulava as cancelas
E só dormia no batente.

Corria para lá e pra cá
Em baixo de minha cama
Se deixava ficar
Para depois, poder me assustar.

Minha gatinha levada
Onde é que você está????? 
Regina Gois

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MULHER MORENA (POESIA)

Di Cavalcanti (Mulher)


Mulher morena,
bonita, exótica, elegante
tem sagacidade em toda a alma
desperta prazer e interesse
sob seus olhos pretos inundados de paz e calma.
 
Mulher morena,
sensível, carente, cheia de incertezas
disponível, caridosa, amável
afaga o pobre, enche de beijos o amado
mas ainda chora com suas tristezas.
 
Mulher morena,
forte, decidida, sempre tem o que quer
próspera na vida, cheia de razão
autoridade e franqueza não lhe faltam
leva a chave do poder em sua mão.
 
Mulher morena,
mulher, amiga, irmã
absorvam tudo dela
desde o pão até o beijo e a maçã!!
 
 
Autora : Elaine Mello
Para  Regina

domingo, 7 de novembro de 2010

GUTA

         Para Guta
Ela que sempre me fez feliz,
Hoje me deixou triste.
Adeus minha gatinha sapeca.
Quando eu parar de chorar,
E na terra te acomodar...
Algumas linhas vou te dedicar. 

sábado, 6 de novembro de 2010

DESEJO (POESIA)









Com o olhar de sertanejo,

O céu nublado começo a vasculhar.
Esperançoso e cheio de desejo.
Vejo apenas uma noite sem luar.

Sinto seu cheiro e logo vejo,
Pequenas gotas rolando no ar.
Como um bobo eu logo festejo,
As folhagens que voltaram a brilhar.

Inebriado com a leveza do ar,
Minha alma se deixa levar.
Querendo apenas ouvir
O doce barulho do teu gotejar.

Quando na terra começas a tocar
Eu não me contento só em olhar,
Quero também me deitar,
E em tuas águas me abandonar.






sexta-feira, 5 de novembro de 2010

NINHO VAZIO (POESIA)


Eles têm seus caminhos,
Todos vão querer trilhar.
Por melhor que sejam os ninhos,
Precisam aprender a voar.

Achamos que são mesquinhos,
Por nossos corações esmigalhar.
Será que vão sobreviver sozinhos?
Confusos, começamos a indagar.

Qual a razão? Ficamos a pensar...
Sem entender começamos a chorar.
Sabemos que é preciso ter fé e acreditar.
Até tentamos nos acostumar.

Só queríamos um último olhar,
Para tão somente podermos acenar.
Ou  simplesmente encontrar 
um bilhete seu, abandonado em qualquer lugar.
Regina Gois

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O PEQUENO BERNARDO (CONTO)

Lá vem o Bernardo correndo com a sua mochila nas costas. Finalmente avista a mãe, que estava à sua espera no portão da escolinha, enquanto ele tagarelava com os coleguinhas. Tem apenas três anos, mas comporta-se como um pequeno adolescente. Vive cercado de amiguinhos e está sempre cheio de assuntos para conversar.
A mãe coloca-o em sua cadeirinha no banco traseiro do carro e seguem para casa. Olhando pelo retrovisor, ela observa que ele está diferente dos outros dias, tem no rosto uma expressão pensativa, séria e não está falando o tempo todo como sempre faz.
Através da janela do carro ele fica observando as crianças brincando na rua. Seus olhos brilham.  Pensa: Quero ser grande, para poder correr pela rua, empinar pipas, comprar balas na padaria sozinho. Lá na frente um garoto anda de bicicleta livremente, ele o segue com os olhos curiosos. E pensa: Eu também vou ter uma bicicleta sem rodinhas, para andar na rua. 
-O que você tem Bernardo? Está tão quieto. –pergunta a mãe preocupada.
-Tô brabo, não quelo falar. –ele responde fazendo uma carinha séria.
-Por que você está bravo filho? O que houve?
- Mãe, a gente conversa em casa- disse ele com firmeza.
 A mãe teve que se segurar para não rir. Ele tinha um jeito de dizer às coisas que o fazia parecer adulto. “Como esse menino tem personalidade. Às vezes faz essa carinha de bravo, que até assusta a gente. Outras vezes fica risonho, abraça e beija todo mundo e diz eu te amo espontaneamente. Essas crianças de hoje! Quem entende”.
-Tá bom, a gente conversa em casa. -disse a mãe, desistindo de conversar e se concentrando no trânsito.
Chegando em casa ele correu para o sofá, pegou o controle remoto e ligou a televisão; procurou um canal de desenho e sentou-se no sofá com as pernas abertas, os braços cruzados e os olhos fixos no desenho.
De repente a porta da sala se abre. Ele já sabe quem é. Pula do sofá e vai até a porta correndo. -Papai! –grita Bernardo com os braços estendidos e se pendurando no pescoço do pai.  O Pai afaga seus cabelos, dá um beijo em seu rosto e pergunta: - Bernardo como foi o seu dia?
-Agola eu não posso falar, to vendo desenho. - ele respondeu voltando os olhinhos para a telinha.
-Tá bom, vou preparar o seu banho, ok? -disse o pai, dirigindo-se a cozinha para cumprimentar a esposa.
-Vamos tomar banho Bernardo! -chamou o pai do banheiro.
-A banheira já está cheia? Veja se meus bichinhos estão aí? –gritou Bernardo olhando fixamente para a televisão.
-Venha logo! Ou a água vai esfriar. -falou o pai pela quinta vez.
-Espela mais um pouquinho, começou outro desenho.
-Ah... Bernardo, você já viu esse desenho mais de mil vezes. Venha logo, filho.
Depois de chamar várias vezes, o pai perde a paciência e vai até a sala. Bernardo se deixa despir ali mesmo no sofá de olho na TV. Em pouco tempo ele está nu. O pai o carrega no ombro até o banheiro. Agora o difícil será tirá-lo da banheira, onde ele ficará brincando com seus bichinhos de borracha até a água ficar fria.
Quando a janta está pronta e na mesa, a mãe grita para o marido tirar o pequeno do banho. Com o pai, ele não teima tanto.
Logo ele aparece sorridente na sala, com suas bochechas gordinhas rosadas, seus cabelos penteados de lado, está usando um pijaminha azul ilustrado; ele já sabe o que a mãe vai dizer.
 -Que lindo! Que cheiroso!- A mãe para o que esta fazendo para beijar-lhe o rosto. E apertar-lhe as bochechas.
Bernardo foi até a mesa e arrastou a cadeira. Ele sempre se senta sozinho, não gosta de ajuda. Joga uma parte do corpo, depois com grande esforço consegue finalmente sentar-se. Quando a mãe vem com seu prato e os talheres, ameaçando dar comida em sua boca, ele já estende a mão para pegar o talher e diz:
-Deixa! Eu já sei comer sozinho.
Examina o prato com seus olhinhos pequenos, reconheceu o arroz, o feijão, o franguinho com batata que ele tanto adora e coloca o dedinho em um montinho verde ao lado do arroz. Acha estranho, enruga a testa e pergunta: - O que é isso verde aqui mamãe?
-É couve filho. É uma delícia. Experimente só um pouquinho.
-Ah, parece mato! –resmunga ele enrugando a testa.
Desajeitado e com a ajuda dos dedos vai enchendo a colher e leva à boca somente o que já conhece.
A mãe olha a maneira como ele ajeita a comida na colherzinha e fala. -Olha só para você, colocando a mão na comida! Você precisa começar a comer com garfo e faca, vamos começar a treinar? O que você acha?
-Ah, não! Mamãe, eu só vou comer com galfo e faca, quando eu fizer quatro anos. –disse mostrando quatro dedinhos gorduchos.
 E então pergunta:
-Não tem Cola-Cola?
-Não Bernardo, hoje só tem suco de laranja, quer? Eu não tive tempo de comprar refrigerante para você.
-Não tem ploblema mamãe, amanhã você compra tá!
Ele olha para o pai, depois para a mãe. Sabe que precisa comer tudo ou não vai ter historinha na hora de dormir. A mãe até que o deixaria levantar-se da mesa, mas o pai gostava de ver o prato limpinho.
-Agora, fala como foi o seu dia? O que você fez lá na escolinha? -perguntou a mãe curiosa.
Ela insistia para saber o que tinha acontecido na escola, porque sabia que, mesmo ele sendo muito querido pelas tias e pelos amiguinhos, de vez em quando aprontava, arrumava confusão e não aceitava algumas regras, chegando até a brigar pelo que queria.
-Ahh...Nós cantamos umas músicas, a tia leu historinhas, brincamos no parquinho, comemos, dormimos e comemos de novo. Aí você chegou, nem tive tempo de falar direito com meus amiguinhos.
-E porque você não quis conversar no carro?
-Eu estava pensando... –disse ele olhando para o pai e depois voltando o olhar para a mãe.
-Pensando no que Bê? Perguntou a mãe preocupada.
-Que quelo crescer logo. –respondeu ele enfiando uma colherada de comida na boca.
- Crescer logo, para quê? –perguntou o pai.
- Pala andar na rua sozinho, ir pescar com você, jogar bola com os outros meninos...
-Que legal! Então, come tudo para crescer e ficar bem forte. –disse a mãe, dando um longo suspiro, olhando para o marido e piscando.
-Quelo ir pala Nova Odessa. –ele falou de repente, batendo os dedinhos na mesa.
-Por que você quer ir para Nova Odessa? – perguntou o pai.
-Lá tem muita gente, o João, o Raul o Henrique, a Renata a Malina... Aqui eu fico sozinho. - respondeu ele fazendo uma carinha triste.
-Mas, o João, o Raul e o Henrique não moram em Nova Odessa.  Eles moram aqui em São Paulo. - respondeu a mãe.
Ele pensou um pouco, depois disse:
- Queria ficar lá,... em Nova Odessa tem mais tios. Eles podem cuidar de mim, me levar para a escola...
- A sua escola é aqui, Bernardo. Lá não tem escola para você. - disse o pai.
-Ah..., mas então eu fico lá e não vou para a escola. A tia cuida de mim.  Lá tem cachorro, tem gato...
-A Tia não vai conseguir cuidar de você. Ela vive dizendo que você tem os “olhos juntos”.
-Mãe, o que é ter “olhos juntos”?
-Ela te chama assim, porque você é muito levado, não para quieto nem por um segundo.
_Ah... tá... -Não completou a frase. Ficou comendo em silêncio por alguns instantes como se estivesse pensando.  
-Nós iremos para Nova Odessa no próximo feriado. –disse o pai, olhando para o menino. – O que você acha Bernardo?  
O rosto de Bernardo se iluminou. Então ele deu um sorriso, um sorriso muito aberto e puro. Perguntou: - Amanhã papai?
-Não querido. Na outra semana, não vai demorar nada, você vai ver. 
-Ah, papai e se a gente for agora! Lá tem tanta gente, têm tanta coisa para brincar. -Quando eu for grande, vou ter filhos e vou morar em Nova Odessa. - disse ele com o semblante sério.
A mãe sorriu.
-Mas você ainda nem tem namorada?
-Tenho sim! – respondeu ele com firmeza.
-Quer dizer que você já tem namorada? -perguntou a mãe espantada. -Quem é a sua namorada?     
Ele dá um risinho tímido e fala. -A Janaína da minha escolinha.
-Nossa filho, que legal! -a mãe falou enquanto olhava para o marido e piscavas os olhos.
Ele então levou a mão ao peito e disse.  -A Janaína tá no meu colação.
Os pais se entreolharam sorrindo, cada dia eles se surpreendiam mais com as conversas do Bernardo.  
-Pronto! Mamãe já comi tudo, você me conta a história do Lobo mau?
-De novo! Ontem eu já te contei essa história.
-Conta de novo, por favor, eu gosto muito do lobo mau.
Ela ficara o dia inteiro esperando aquele momento. Sentou-se ao lado do Bernardo na cama. Enquanto ele abria o livro com seus pequenos dedos e escolhia a história que ela iria lhe contar, não uma, nem duas, mais várias vezes.  Até que seus olhinhos se fechassem.
Então, ela silenciosamente lhe dá um delicioso beijinho de boa noite e saí do quarto na pontinha dos pés.